domingo, 1 de setembro de 2013

Nossa profissão em crise terminal?



Eu confesso que sempre fui apaixonada por jornais e revistas. Talvez por influência do meu pai que tinha o hábito de ler. Na infância, passava horas, aos domingos, folheando o Estadinho, o suplemento infantil do jornal Estado de S. Paulo. Enquanto saboreava aquelas páginas ficava observando meu pai lendo as páginas destinadas aos adultos. Admirava a forma como ele dobrava as folhas sem amassá-las e dizia a mim mesma que, quando eu me tornasse uma leitora adulta, iria ter a mesma habilidade. Ainda na pré-adolescência tornei-me leitora assídua da revista Carícia, a publicação que deu origem, anos mais tarde, à revista Capricho. Lembro-me como se fosse hoje das matérias sobre comportamento, que eram as minhas preferidas e que ajudaram muito a ampliar a minha visão de mundo recém-saído do universo infantil e deliciosamente limitada. Sentia um vazio enorme quando terminava de ler a revista e tinha que esperar até o próximo mês pela próxima edição.
Foi por causa da Carícia e dos jornais de domingo que comecei a sonhar com a profissão de jornalista. Nessa época, eu tinha apenas 12 ou 13 anos; ficava imaginando por horas como seria uma redação. Como seria escrever as matérias que eu lia. Meu pai, sabendo desse meu sonho, levou-me na redação da revista Caminhoneiro, onde meu tio era editor na época. Fiquei maluca com as máquinas de escrever em cima das mesas enfileiradas em uma sala enorme. Naquele dia, disse ao meu tio que gostaria de ter a profissão dele quando crescesse. Acho que ele não botou uma fé. Só passou a mão em minha cabeça e respondeu: “quando entrar na faculdade, me procura para conversarmos sobre a profissão”.
Dez anos se passaram e adivinhem: entrei na faculdade de Jornalismo. A maioria dos colegas queria rádio e TV, mais televisão. Eu ainda sonhava com revistas e jornais. No quinto semestre passei a visitar meu tio na redação do extinto jornal Gazeta Mercantil. Ia geralmente aos domingos, mas antes escrevia um e-mail com as seguintes palavras: “tio, você tem plantão esse domingo? Quero sentir cheiro de jornal”. Ele prontamente me dava uma resposta positiva. Naquelas tardes ficava observando todos os detalhes da rotina, o jeito que meu tio conversava com os outros jornalistas. Ouvia histórias engraçadas de homens e mulheres inteligentes. Eu babava de tanta admiração. Ah, como eu queria fazer o que eles faziam. Como eu amava redação. E pensava: um dia, um dia vou sentir cheiro de jornal todos os dias. Um dia serei como eles. Um dia farei parte da rotina de uma revista. Um dia quem sabe...
Esse dia chegou. E depois que comecei nunca mais interrompi minha jornada. Nem mesmo durante o período de licença a maternidade, quando fazia ao menos uma matéria por mês. Sentia medo de ficar enferrujada ou de perder a mão. Pedia a Deus que jamais me privasse de escrever. Que jamais me afastasse desse mundo.
Outro dia eu estava fazendo as contas e em nove anos de carreira colaborei para pelo menos 12 títulos diferentes em esquema de freelancer. Dos mais variados assuntos, porém, meus pés sempre ficaram fixados no setor automotivo, mais especificamente na área de transporte que é uma herança do meu tio ( que Deus tenha esse ser humano brilhante!).
Há dois anos, passei a trabalhar do outro lado do balcão e hoje me vejo cada vez mais envolvida com a comunicação corporativa. A vida deu uma reviravolta em um momento oportuno. Desde quando passei a atuar como assessora de imprensa, só tenho ouvido notícias ruins sobre as redações. Colegas inseguros, anúncios cada vez mais escassos e demissões...muitas demissões. A última notícia de que a Abril fechou quatro títulos e dispensou mais de 100 funcionários deixou-me um pouco sem chão. Será o fim de uma indústria? Será que nós jornalistas de revista e de jornal estamos vivendo uma realidade que está com os dias contados? Como sobreviver a tudo isso ? O que fica são: a dúvida, o medo e a esperança de que essa indústria não se acabe, mas que se reinvente de alguma forma. Afinal de contas, ainda mora em mim aquela mesma menina que sonhava em trabalhar em jornais e revistas. E mesmo que, de certa forma, esteja afastada do dia-a-dia de uma redação, não posso aceitar que, em breve, haverá um fim... 

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