domingo, 1 de setembro de 2013

O que Ruth me ensinou sobre a amizade



A lição mais importante que tive sobre a amizade aconteceu quando eu tinha apenas 11 anos e cursava a quinta série do ginásio (que hoje equivale ao sexto ano do ensino fundamental). Havia em minha sala uma menina que eu gostava e admirava muito. Sabe aquele tipo de pessoa que você senta para conversar e nem vê o tempo passar? 
Aquele tipo de pessoa que te faz sorrir por qualquer besteira e você se sente leve e em paz? Era assim que eu me sentia quando estava ao lado de Ruth. Fazíamos trabalhos juntas, dividíamos os nossos lanches e, à noite, ela ainda me ligava para conversar um pouco mais...era sempre um prazer ouvi-la.
Ruth era nerd e tinha um nariz avantajado. E isso era motivo para ser vítima de bullyng das outras crianças.
Eu ficava incomodada com tudo aquilo, mas não defendi minha amiga. Teve um dia em que eu até engrossei coro da classe, xingando-a de Tamanduá Bandeira. Vi que as outras crianças a deixavam de lado e eu passei a fazer isso também. Eu ficava triste, mas não dava o braço a torcer. Queria parecer legal aos olhos dos outros “amigos”.
Foi então que, Ruth, muito sábia, com alma doce, aplicou-me uma lição. Seguiu-me durante o recreio e me deu uma figurinha de chiclete com os seguintes dizeres: “Sinto sua falta”. Aquilo foi um murro na minha cara. Mesmo ainda sendo uma criança, me senti um ser humano pequeno e desprezível. Chorei. Chorei muito... mas Ruth ajudou-me a ser uma pessoa melhor. Nos abraçamos. Foi emocionante.
Daquele momento em diante, não abandonei mais minha amiga e passei a defendê-la todas as vezes que alguém a ameaçava com insultos. Foi assim até que mudamos de escola. Cada qual seguiu seu caminho e eu nunca mais a vi e também não tive notícias. Uma pena...
O que Ruth me ensinou? Amigo é aquele que te enxerga, apesar dos seus defeitos. No fundo, ela sabia que eu não era aquela pessoa horrorosa que estava tentando ser e me resgatou. Me salvou de todas as formas que alguém pode salvar um amigo. Ela enxergou o que sou de verdade por trás das máscaras e das minhas fraquezas.
Enxergar o outro além das aparências é ser nobre. É estar preparado para ser amigo de verdade. E, quantas vezes depois, eu, mais velha, fui intolerante com outros amigos que fiz ao passar dos anos? Mas a lição de Ruth sempre ficou em meu coração. É por isso que muitas vezes perdoei injustiças. Consolei pessoas as quais não falava mais. Fui atrás. Pedi desculpas e perdoei quem me caluniou, quem chegou ao ponto de ficar íntimo de pessoas que me querem mal só para me afrontar.
Mas, ao refletir sobre tudo isso, cheguei a conclusão de que Ruth só me resgatou porque sabia que eu valia a pena. Que nossa amizade era recíproca. Já eu, querendo levar a lição da minha amiga adiante, forcei a barra acreditando que iria encontrar outras Ruths por aí. Mas não é assim. Ruths são peças raras nesse mundo. E é por isso que amigo a gente conta nos dedos de uma mão.

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